8.11.10

Identidade (s)...




“Aos que perguntam, explico com paciência que nasci no Líbano e lá vivi até meus 27 anos; que minha língua materna é o árabe, que foi em tradução árabe que li Dumas, Dickens e As Viagens de Gulliver; e que foi na minha aldeia natal, na aldeia de meus antepassados, que experimentei os prazeres da infância e ouvi algumas das histórias que mais tarde inspirariam meus romances. Como poderia esquecer isso? Como posso deixá-lo de lado? Por outro lado, vivi 22 anos pisando o solo da França, bebendo sua água e seu vinho; todo dia minhas mãos tocam suas pedras antigas; escrevo meus livros em sua língua; impossível considerá-la um país estrangeiro.

Serei meio francês meio libanês? Claro que não. A identidade não cabe em compartimentos. Não pode ser dividida em metades, terças-partes ou segmentos separados. Não tenho várias identidades, tenho uma só, feita de muitos componentes combinados, numa mistura que é única, como para cada indivíduo.
 
Às vezes, após explicar isso detalhadamente, alguém pergunta (...) “Mas como é que você se sente, lá no fundo?” Durante algum tempo, eu achava engraçada essa pergunta, sempre repetida. Mas não me faz sorrir mais, não tem a menor graça. Parece reflectir uma visão da humanidade bastante comum, mas muito perigosa”. Como se houvesse alguma pertinência fundamental, uma essência imutável e que se tivesse que “assumir uma identidade (...) a ser esfregada orgulhosamente na cara dos outros.”

1 comentário:

MAG disse...

Parece ser um bom livro. Bjs